Este projeto de pesquisa tem por objetivo fazer uma cartografia inicial para posterior elaboração de uma poética do tempo no drama brasileiro contemporâneo. A tradição aristotélica do teatro dramático tendeu à homogeneização e ao apagamento da experiência temporal a partir da identificação entre tempo da representação e tempo da ação representada. No entanto, seja com os dramaturgos europeus da “crise do drama”, seja com as encenações de vanguarda de inícios do XX, a causalidade desse presente absoluto é abalada. O drama moderno e contemporâneo – marcado não por um fim, mas por um transbordamento do gênero - incorpora novos padrões de representação e novas experiências temporais, como o tempo desagregado, a temporalidade onírica, o passado ilógico e a experiência da simultaneidade, que se tornam centrais para sua constituição. Desse modo, farei o estudo de dez peças brasileiras dos últimos 20 anos, com o objetivo principal de investigar como se configura a experiência do tempo nesses dramas; como desdobramento, investigar os elementos que neles sugerem um tipo de tratamento especial do tempo pela cena, ou seja, como se dão os nexos entre o tempo dramático ficcional e o tempo da representação teatral (encenação/performance e o trabalho em torno da duração, da repetição, do estatismo, da aceleração etc). Por fim, investigarei os possíveis sentidos daí oriundos, não apenas naquilo que dramaturgia e teatro criam de referência sobre a própria linguagem e do tempo como duração, mas também do que sugerem como resistência contra ao esfacelamento dos laços sociais; como escavação das experiências do trauma e da memória coletivos; como instalação de um tempo ancestral espiralar ou mesmo como reflexão sobre os arranjos de um “tempo brasileiro” (da complexa combinação de modernidade e atraso, da presença do “passado que não passa” etc).